Sempre se espera “o pior” da mãe…

Isabellamoraisvasconcelos
2 min readDec 22, 2021

“Mães não precisam ser canonizadas, não são santas, tão pouco são diabas.(…) Mães não estão acima do bem e do mal, e já está mais do que na hora de tirá-las dessa caixa.”

Escrevi isso há um tempo e recentemente me peguei pensando sobre o inverso dessa premissa: pq sempre esperam “o pior” das mães?! Seria mais um paradoxo dessa sociedade doentia na qual vivemos?!

É que me aconteceu o seguinte: fomos para um show, eu e a filhota. Lá, como de costume, deixei a cria super a vontade e ela, por sua vez, dançou a beça, uma dança livre, do jeito que queria e sabia, muito “energética”, como ela mesmo fala, meio “desengonçada” e totalmente empolgada com aquele momento! Escorregou, caiu e levantou. Continuou. Por umas duas vezes quase derruba um equipamento de som pq estávamos na lateral do palco, até que chegou um momento em que a música que tocava era mais lenta, então lhe falei ao ouvido: “filha essa música é mais lenta, dança mais tranquila, mais devagar”. Assim que me ouviu ela parou e ficou encostada em mim; desconfio que já estava cansada, que aproveitou a deixa pra repousar um pouquinho na mãe.

Um minuto depois dessa sequência de atos, uma senhora que estava atrás da gente pergunta no meu ouvido “pq vc pediu pra ela parar de dançar?!” Alto lá! Não fiz isso! Lhe expliquei o que tinha acontecido, meio que me defendendo da “acusação”, e a senhora pareceu entender e disse “aaahhh, sim”.

Esse evento me fez refletir que tudo “de ruim” que acontece com uma criança é por causa da mãe (e não tô falando nem na famosa culpa que já nasce junto com uma mãe).

Ocorre que quando não nos põem a responsabilidade da perfeição imaculada, creditam na nossa conta tudo de pior do que acontece com as crianças…quando caem, se acidentam ou adoecem, “foi a mãe que não cuidou direito”; quando vão mal na escola ou não interagem com os colegas da vizinhança, “foi a mãe que não acompanhou como devia”; percebem? Nunca é uma questão da própria criança ou algo que se relaciona com outro cuidador ou cuidadora. Pior, parece que sempre tem alguém a espreita pra dizer “eu avisei” ou “cadê a mãe dessa criança?” e finalmente “a culpada é mãe!”

A pressão e a expectativa de que a mãe erre é muito forte, recorrente e contraditória.

E como representante dessa classe, senti a necessidade de dizer aqui, agora e para sempre: parem de esperar o pior de nós!

Tampouco esperem sempre o melhor, não criem expectativas sob o nosso maternar, não é essa a visibilidade que queremos.

No mínimo ofereçam ajuda sincera e efetiva, e no máximo contribuam para recriar uma sociedade que de fato e de direito compartilhe da criação e educação das crianças.

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Isabellamoraisvasconcelos

Designer, mestra em história social da cultura e (ama) dora da escrita, arriscando rimas, prosas e poesias.