Empatia não empata a apatia da empatia travestida de simpatia.

Isabellamoraisvasconcelos
4 min readMar 4, 2021

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O Tratado da empatia.

Segundo o Oxford Languages (dicionário de português usado pelo Google), Empatia é um substantivo feminino, definido como: 1. faculdade de compreender emocionalmente um objeto. 2. capacidade de projetar a personalidade de alguém num objeto, de forma que este pareça como que impregnado dela.

Descendo mais a barra de rolagem, vemos que a psicologia define o termo como um sentimento, uma habilidade, uma ação de se colocar no lugar do outro, se imaginar sentindo o que o outro sentiria em determinadas situações.

Mas na prática, o que é empatia? Na prática, como se pratica a empatia?

Para se colocar no lugar do outro (lugar comum onde se coloca a empatia, diga-se de passagem) é preciso pensar como o outro e talvez até agir como o outro agiria em dados momentos; entender o que leva as pessoas a agirem de um modo e não de outro; por um momento abrir mão do seu ponto de vista em prol da perspectiva daquela pessoa com a qual você quer ser empático.

Nesse sentido, é fundamental nos despirmos dos nossos (pré) julgamentos para praticarmos enfim a empatia “raiz” (porque de empatia “nutela” o mundo — e as redes — já tá cheio). Mas não é tão simples assim nos livrarmos dos nossos (pré) conceitos para incorporarmos a visão de mundo de outra pessoa. Assim, parece razoável que se conheça bem o seu próprio indivíduo para poder reconhecer o outro. É aquilo que muito tem se falado, o tal do autoconhecimento. Porque a empatia diz respeito principalmente ao outro, mas também sobre nós mesmos.

Uma excelente forma de sermos empáticos é exercendo a escuta. Ouvir o que outro tem a dizer quase sempre implica em nos calarmos. Ou perguntar mais do que responder. E aqui já temos uma pista que é importante também falarmos de igual para igual, com clareza, sem parecer (ou querer ser) superior.

Às vezes, dá uma sensação de que a empatia tem sido confundida com a simpatia que, de acordo com o mesmo dicionário mencionado lá em cima, é substantivo feminino de: 1. afinidade moral, similitude no sentir e no pensar que aproxima duas ou mais pessoas. 2. relação entre pessoas que, tendo afinidades, se sentem atraídas entre si.

As duas palavras, os dois conceitos realmente apresentam mais do que semelhanças fonéticas. Parece casca de banana em prova de múltipla escolha. Mas, na dúvida, escolha ser empático ou empática, porque assim sendo, você naturalmente será simpático ou simpática. O contrário não faz sentido: ter simpatia não te faz ter empatia. Porque ter um sentimento ou pensamento similar pode até aproximar você do outro, mas aproximação é diferente de compreensão.

Um exemplo bem prático e atual é a simpatia que se pode ter à causa LGBTQIA+. Você pode ir a uma Parada da Diversidade, se divertir, ter algumas afinidades e “não ter nada contra” esse grupo diverso de pessoas. O que é diferente de você ouvir o que dizem a respeito, argumentar a favor da causa, se imaginar vivendo a luta deles. Inclusive a sigla que abrangia antes esse grupo de indivíduos era GLS — Gays, Lésbicas e Simpatizantes — o que me faz pensar que perceberam que ser “simpatizante” não era suficiente. Bem, não sei ao certo. Talvez eu mesma seja simplesmente uma simpatizante. Quem sabe futuramente a sigla atual ganhe mais um “E”, de “empatizantes”?

Dito isso, sobre apatia (outra rima fácil pra nossa protagonista) não se tem quase nada a dizer. Porque é justamente esse o significado: não sentir nada! É a falta de comoção, o excesso de insensibilidade, de indiferença.

A empatia, por sua vez, pode ser tão complexa que é possível identificá-la mais especificamente em *categorias: a empatia “cognitiva”, por exemplo, está mais relacionada ao sentir como o outro, pensar como ele pensaria. A empatia dita “emocional” é aquela que permite o agir tal qual o outro agiria; está relacionada à ação de fato. E para exemplificá-la podemos mencionar aqueles testes de usabilidade de alguns produtos. O próprio teste–drive é uma experiência a ser considerada pelas indústrias automotivas para se (re)pensar o design de seus automóveis, isso é, se elas quiserem ser empáticas com os seus usuários/clientes/compradores.

Por fim, temos a empatia “compassiva” que também entra no campo da ação, mas dessa vez para realizar algo em prol do outro, se for de sua vontade e/ou necessidade. Vide as mães com bebês ou crianças pequenas: elas certamente precisam dessa empatia. Que se manifesta por meio da entrega de uma comida pronta, de roupas lavadas, de casa limpa e arrumada, etc. Enquanto a mãe está toda disponível para as suas crianças, numa demanda infinita, a pessoa empática providencia essas outras questões.

Agora, depois de toda essa explicação sobre o significado da empatia, vem a segunda parte desse texto. Que talvez não fosse tão necessária assim, a não ser pela vontade da autora dela mesma praticar sua empatia, considerando que nem todo mundo apreendeu a acepção da palavra, e que às vezes nada melhor que um exercício prático para entendermos a teoria.

Vamos de questão:

1. Quando você cobrar ou sugerir que outra pessoa tenha empatia em determinada situação, pare e pense: será que eu mesmo estou sendo empático com essa pessoa? O que ela pensa ou sabe sobre empatia? Será que ela, dentro do seu contexto, consegue ser empática nessa situação X?

Percebe? Até mesmo o ato de se exigir empatia de alguém talvez nos coloque numa posição não empática. Ou seja, se ficar confuso, ofereça empatia no lugar de cobrá-la. Afinal, as palavras ensinam, mas os exemplos arrastam.

Espero ter colocado aqui então muito mais que palavras, e sim um bom exemplo que faça pensar sobre.

E, como dizia um amigo meu, já em 2004:

Paz, amor e empatia!

*Sobre a classificação da empatia, leia mais em “Empatia e a nova liderança”

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Isabellamoraisvasconcelos

Designer, mestra em história social da cultura e (ama) dora da escrita, arriscando rimas, prosas e poesias.